quarta-feira, 30 de abril de 2014

São João XXIII, papa,

 



Nasceu no dia 25 de Novembro de 1881 em Sotto il Monte, diocese e província de Bérgamo (Itália), e nesse mesmo dia foi baptizado com o nome de Angelo Giuseppe; foi o quarto de treze irmãos, nascidos numa família de camponeses e de tipo patriarcal. Ao seu tio Xavier, ele mesmo atribuirá a sua primeira e fundamental formação religiosa. O clima religioso da família e a fervorosa vida paroquial foram a primeira escola de vida cristã, que marcou a sua fisionomia espiritual.

Ingressou no Seminário de Bérgamo, onde estudou até ao segundo ano de teologia. Ali começou a redigir os seus escritos espirituais, que depois foram recolhidos no "Diário da alma". No dia 1 de Março de 1896, o seu director espiritual admitiu-o na ordem franciscana secular, cuja regra professou a 23 de Maio de 1897.

De 1901 a 1905 foi aluno do Pontifício Seminário Romano, graças a uma bolsa de estudos da diocese de Bérgamo. Neste tempo prestou, além disso, um ano de serviço militar. Recebeu a Ordenação sacerdotal a 10 de Agosto de 1904, em Roma, e no ano seguinte foi nomeado secretário do novo Bispo de Bérgamo, D. Giacomo Maria R. Tedeschi, acompanhando-o nas várias visitas pastorais e colaborando em múltiplas iniciativas apostólicas: sínodo, redacção do boletim diocesano, peregrinações, obras sociais. Às vezes era também professor de história eclesiástica, patrologia e apologética. Foi também Assistente da Acção Católica Feminina, colaborador no diário católico de Bérgamo e pregador muito solicitado, pela sua eloquência elegante, profunda e eficaz.

Naqueles anos aprofundou-se no estudo de três grandes pastores: São Carlos Borromeu (de quem publicou as Actas das visitas realizadas na diocese de Bérgamo em 1575), São Francisco de Sales e o então Beato Gregório Barbarigo. Após a morte de D. Giacomo Tedeschi, em 1914, o Pade Roncalli prosseguiu o seu ministério sacerdotal dedicado ao magistério no Seminário e ao apostolado, sobretudo entre os membros das associações católicas.

Em 1915, quando a Itália entrou em guerra, foi chamado como sargento sanitário e nomeado capelão militar dos soldados feridos que regressavam da linha de combate. No fim da guerra abriu a "Casa do estudante" e trabalhou na pastoral dos jovens estudantes. Em 1919 foi nomeado director espiritual do Seminário.

Em 1921 teve início a segunda parte da sua vida, dedicada ao serviço da Santa Igreja. Tendo sido chamado a Roma por Bento XV como presidente nacional do Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé, percorreu muitas dioceses da Itália organizando círculos missionários.

Em 1925, Pio XI nomeou-o Visitador Apostólico para a Bulgária e elevou-o à dignidade episcopal da Sede titular de Areopolis.

Tendo recebido a Ordenação episcopal a 19 de Março de 1925, em Roma, iniciou o seu ministério na Bulgária, onde permaneceu até 1935. Visitou as comunidades católicas e cultivou relações respeitosas com as demais comunidades cristãs. Actuou com grande solicitude e caridade, aliviando os sofrimentos causados pelo terremoto de 1928. Suportou em silêncio as incompreensões e dificuldades de um ministério marcado pela táctica pastoral de pequenos passos. Consolidou a sua confiança em Jesus crucificado e a sua entrega a Ele.

Em 1935 foi nomeado Delegado Apostólico na Turquia e Grécia: era um vasto campo de trabalho. A Igreja tinha uma presença activa em muitos âmbitos da jovem república, que se estava a renovar e a organizar. Mons. Roncalli trabalhou com intensidade ao serviço dos católicos e destacou-se pela sua maneira de dialogar e pelo trato respeitoso com os ortodoxos e os muçulmanos. Quando irrompeu a segunda guerra mundial ele encontrava-se na Grécia, que ficou devastada pelos combates. Procurou dar notícias sobre os prisioneiros de guerra e salvou muitos judeus com a "permissão de trânsito" fornecida pela Delegação Apostólica. Em 1944 Pio XII nomeou-o Núncio Apostólico em Paris.

Durante os últimos meses do conflito mundial, e uma vez restabelecida a paz, ajudou os prisioneiros de guerra e trabalhou pela normalização da vida eclesial na França. Visitou os grandes santuários franceses e participou nas festas populares e nas manifestações religiosas mais significativas. Foi um observador atento, prudente e repleto de confiança nas novas iniciativas pastorais do episcopado e do clero na França. Distinguiu-se sempre pela busca da simplicidade evangélica, inclusive nos assuntos diplomáticos mais complexos. Procurou agir sempre como sacerdote em todas as situações, animado por uma piedade sincera, que se transformava todos os dias em prolongado tempo a orar e a meditar.

Em 1953 foi criado Cardeal e enviado a Veneza como Patriarca, realizando ali um pastoreio sábio e empreendedor e dedicando-se totalmente ao cuidado das almas, seguindo o exemplo dos seus santos predecessores: São Lourenço Giustiniani, primeiro Patriarca de Veneza, e São Pio X.

Depois da morte de Pio XII, foi eleito Sumo Pontífice a 28 de Outubro de 1958 e assumiu o nome de João XXIII. O seu pontificado, que durou menos de cinco anos, apresentou-o ao mundo como uma autêntica imagem de bom Pastor. Manso e atento, empreendedor e corajoso, simples e cordial, praticou cristãmente as obras de misericórdia corporais e espirituais, visitando os encarcerados e os doentes, recebendo homens de todas as nações e crenças e cultivando um extraordinário sentimento de paternidade para com todos. O seu magistério foi muito apreciado, sobretudo com as Encíclicas "Pacem in terris" e "Mater et magistra".

Convocou o Sínodo romano, instituiu uma Comissão para a revisão do Código de Direito Canónico e convocou o Concílio Ecuménico Vaticano II. Visitou muitas paróquias da Diocese de Roma, sobretudo as dos bairros mais novos. O povo viu nele um reflexo da bondade de Deus e chamou-o "o Papa da bondade". Sustentava-o um profundo espírito de oração, e a sua pessoa, iniciadora duma grande renovação na Igreja, irradiava a paz própria de quem confia sempre no Senhor. Faleceu na tarde do dia 3 de Junho de 1963.

O Papa João Paulo II beatifica-o a 3 de Setembro de 2000.

http://evangelhoquotidiano.org/main.php?language=PT&module=saintfeast&id=11948&fd=0

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Papa San Giovanni XXIII "incallito tradizionalista"

Giovanni XXIII incallito tradizionalista?
di Vincenzo Sansonetti
Segnalato da Rafminimi

Pur non condividendo la figura di un Giovanni XXIII "incallito tradizionalista", pubblichiamo volentieri un articolo di Vincenzo Sansonetti, se non per altro, almeno per evidenziare come idee e provvedimenti tradizionali, oggi tanto perseguitate e condannate, erano idee del Papa e della Chiesa fino al Concilio Vaticano II, dove una minoranza modernista e progressista, imponendosi con colpi di mano e atteggiamenti e metodi della peggiore genia mafiosa, riuscì a prendere in mano le redini del potere e instaurare il regime dell'antichiesa, dell'apostasia, del tradimento, del giudaismo [ATTENZIONE! giudaismo dal traditore Giuda, non dal popolo giudeo] più sfacciato, regime del quale tutt'ora subiamo la violenza e le nefaste applicazioni.
Sottolineatur, grassetti e colori sono nostri.

L'anno della beatificazione (il 2000) ha costituito l'occasione per una nuova serie di ricerche e pubblicazioni rigorose sulla sua vita e il sue operato, dopo che per anni, forse decenni, era mancato un approfondimento documentato e puntuale. Ma tali studi, purtroppo, sono stati presto dimenticati e messi da parte, complici anche due sciagurati film per la tv in cui Rai e Mediaset hanno fatto a gara per semplificarne eccessivamente la figura, alimentando i luoghi comuni su di lui, fino al punto di inventare persone e circostanze. Così, quest'anno, il 2003, l'anno del quarantesimo dalla morte e della pubblicazione della "Pacem in Terris" (l'enciclica diventata più famosa, non necessariamente il documento più significativo del suo pontificato), si e rifatto vivo il "partito" di chi usa a piacimento Papa Roncalli per sostenere le proprie (gracili) idee politiche e le proprie (banali) concezioni ecclesiali.
Noi vorremmo invece attenerci al pieno rispetto della verità storica, tutta intera.
Non è corretto, infatti, creare a posteriori la rappresentazione falsata di un personaggio, sottolineando in maniera esasperata solo alcuni aspetti della sua biografia, quelli più convenienti, e tacendone al contrario altri, quelli, come oggi si dice, meno "politicamente corretti". Proviamo a fare alcuni esempi, facendo emergere in tal modo quasi un Papa Giovanni sconosciuto, segreto, in realtà censurato e obliato.

La disciplina del clero
Il 25 gennaio 1959, nella basilica di San Paolo Fuori le Mura, Giovanni XXIII non dà solo l'annuncio inatteso della sua intenzione di convocare un nuovo Concilio; comunica anche l'imminenza di un Sinodo per la diocesi di Roma (il Papa ha anche la responsabilità episcopale della diocesi di Roma), che dirigerà personalmente dal gennaio 1960. I lavori dureranno un anno, per giungere a una serie di conclusioni, contenute in 775 articoli, alcuni dei quali sorprendenti. Sulla falsariga di una disciplina del clero di tipo tradizionale, si stabiliscono regole molto rigide per i preti: nessun sacerdote della diocesi di Roma può frequentare sale cinematografiche, lo stadio e altri locali pubblici, è proibito viaggiare in automobile con una donna, anche quando si tratta della madre o di una sorella; si pretende la sobrietà del vitto ed è obbligatoria la veste talare.


Oggi invece dobbiamo subirci francescani in discoteca o presidenti di giurie da miss, scalmanate suore allo stadio, pretonzoli in compagnia di prostitute (per aiutarle..., non per convertirle!), faccioni immagine della sazietà, preti, vescovi e cardinali in tenute (non abiti) tanto trasandate da nauseare... anche per il senso di irriverenza e di profanazione del ministero che ricoprono.


Sul piano liturgico, si impone l'uso del gregoriano, i canti popolari di nuova invenzione devono essere approvati, si allontana dalle chiese ogni profanità, vietando in generale che negli edifici sacri si eseguano spettacoli e concerti, si vendano stampati e immagini, si scattino fotografie.
Si condanna ogni creatività del celebrante, "che farebbe scadere l'atto liturgico, che è atto di Chiesa, a semplice esercizio di pietà privata". L'antico rigore viene stabilito anche circa gli spazi sacri, vietando alle donne l'accesso al presbiterio.
Ma queste norme, a cui tanto teneva il Beato Giovanni XXIII, alla fine rimasero lettera morta. Le conclusioni del Sinodo Romano, che doveva prefigurare il Concilio, caddero subito nell'oblio, e lo stesso Concilio, dove le voci "progressiste" prevalsero anche sui voleri del Papa, non le citerà neppure una volta, quasi non fossero neppure mai esistite.
Altro che orripilanti canti moderni, privi di alcuna melodia e dal senso financo equivoco. In chiesa oggi si balla, si danza, si gioca, si fa speccacolo, si fanno concerti e soprattutto si battono le mani, per ogni cretinata e financo nelle circostanze meno appropriate (quali sono quelle dei defunti). In chiesa oggi si vendono tutti i tipi di giornale, in particolare quel "Famiglia Cristiana" che fa tanta concorrenza ai più sporchi rotocalchi (vincendo spesso in bruttezza e sconcezza, d'immagini e di argomenti), un giornale che non ha più niente di cristiano. Le foto poi immortalano spesso certi baci hollywoodiani dati sull'altare da sensuali sposini.
Le donne oggi non solo hanno libero accesso al presbiterio, non solo fanno da chierichette, ma, novelle sacerdotesse di un cristianesimo molto paganeggiante, affiancano il celebrante sull'altare e hanno libero accesso alle Ostie Consacrate che maneggiano e distribuiscono con la più irriverente disinvoltura...
Proprio Roncalli, quando era nunzio a Parigi non volle essere fotografato in compagnia della anzianissima madre badessa di un convento, perché, affermava che MAI E POI MAI il prete deve essere accostato ad un donna, chiunque essa sia.

La lingua latina nella liturgia
Forse la più importante disposizione del Sinodo Romano è la solenne conferma dell'uso del latino nella liturgia, come lingua ufficiale e universale della Chiesa. Capitolo spinoso, e inquietante, quello del latino, la "lingua propria della Chiesa con la Chiesa perpetuamente congiunta" (come l'ha definita lo stesso Giovanni XXIII). Esiste una Costituzione apostolica di Papa Roncalli, praticamente sconosciuta e ignorata dalle biografie, la Veterum Sapientia, l'atto più solenne, come egli volle, del suo pontificato, al punto che la promulgazione, il 22 febbraio 1962, avvenne in San Pietro al cospetto del collegio cardinalizio e di tutto il clero romano. La Costituzione apostolica, interamente dedicata allo studio del latino, confermava la continuità della cultura cristiana con la cultura classica del mondo ellenico e romano, perché le lettere cristiane sono, sin dai primordi, lettere greche e lettere latine. Ma è nella sua parte pratica e dispositiva, non solo in quella dottrinale, che la Veterum Sapientia si rivela di una fermezza esemplare. Il Papa ordina ai vescovi di vigilare a che nessun 'novatore" s'attentasse di scrivere una parola contro la "lingua cattolica". A proposito degli studi ecclesiastici, stabilisce che si ridia il giusto spazio al greco e al latino, a costo di accorciare le discipline del cosiddetto cursus laicale; nei seminari le scienze fondamentali, come la dogmatica e la morale, vanno insegnate in latino, seguendo manuali scritti in latino, e "chi tra gli insegnanti apparisse incapace o renitente alla latinità, si rimuova entro un congruo tempo"!

Il dissenso all'interno della Chiesa
Guardando con attenzione nel pontificato di Giovanni XXIII, ci sono altri esempi di comportamenti che potremmo continuare a definire, con la mentalità di oggi, "politicamente non corretti". In relazione al dissenso all'interno della Chiesa, così vivo in quegli anni, contrastano con lo stereotipo del Papa "progressista" che ci siamo fatti, almeno due episodi. Il primo è la censura del Sant'Uffizio contro il libro di don Lorenzo Milani Esperienze pastorali, condiviso da Roncalli. Venti giorni prima della sua elezione a Papa, scrivendo al vescovo di Bergamo, l'allora Patriarca di Venezia afferma: "Ha letto, Eccellenza, la Civiltà cattolica del 20 settembre circa il volume Esperienze pastorali? L'autore del libro deve essere un povero pazzerello scappato dal manicomio. Guai se si incontra con qualche pazzerello della sua specie! Ho veduto anche il libro. Cose incredibili". L' altro provvedimento è il monito del Sant'Uffizio, pubblicato il 30 giugno 1962 [<http://www.paginecattoliche.it/Theilard-Osservatore.htm>, ndr] con il consenso del Papa, contro le ultime opere del discusso teologo e paleontologo francese Pierre Teilhard de Chardin, il gesuita-scienziato morto nel 1955, a 74 anni: "Fa troppo spesso un'indebita trasposizione", si sostiene, "dei termini e dei concetti della sua teoria evoluzionistica sul piano metafisico e teologico". Alzino la mano i teologi che hanno tenuto conto di questo giudizio condiviso dal Papa "buono"
Vincenzo Sansonetti.
Vedasi l'articolo collegato: La bontà di Giovanni XXIII


Bibliografia
Vincenzo Sansonetti, Un santo di nome Giovanni, Sonzogno, Milano 2000.
Andrea Tornielli, Vita di un Padre Santo, Gribaudi, Milano 2000.
Alessandro Gnocchi e Mario Palmaro, Formidabili quei Papi, Pio IX e Giovanni XXIII: due ritratti in controluce, con prefazione di Luigi Negri, Ancora, Milano 2000.
(c) Il Timone n. 27, Settembre/Ottobre 2003
http://www.kattoliko.it/leggendanera/chiesa/giovanni23.htm

FONTE+

LE APPLICAZIONI DEL VATICANO II OPPOSTE ALLE INTENZIONI DI GIOVANNI XXIII

ANNUNCIO DEL CONCILIO

Papa Giovanni XXIII annuncio del concilio
LE APPLICAZIONI DEL VATICANO II OPPOSTE ALLE INTENZIONI DI GIOVANNI XXIII

RICONOSCIMENTI DELLO SMARRIMENTO


A) Paolo VI, Seminario lombardo in Roma, Oss. Rom., 7 dicembre 1968: "La Chiesa si trova in un'ora inquieta di autocri­tica, si direbbe di autodemolizione. È come un rivolgimento acuto e complesso che nes­suno si sarebbe atteso dopo il Concilio. La Chiesa quasi quasi viene a colpire se stessa".

B) Paolo VI, Oss. Rom., 30 giugno 1972: ".... da qualche parte il fumo di Satana è entrato nel tempio di Dio". /.../ "Anche nella Chiesa regna questo stato di incertezza. Si credeva che dopo il Concilio sarebbe venuta una giornata di sole per la storia della Chiesa. E venuta invece una giornata di nuvole, di tempesta, di buio".

C) Paolo VI, Oss. Rom., 18 luglio 1975. Più che l'assalto esterno, percuote la Chiesa, l'interiore dissoluzione: "Basta con il dissenso interiore alla Chiesa. Basta con una disgregatrice interpretazione del pluralismo. Basta con l'autolesione dei cattolici alla loro indispensabile coesio­ne. Basta con la disobbedienza qualificata come libertà".

D) Papa Giovanni Paolo II in oc­casione di un convegno per la Missioni al popolo, affermò: "Bisogna ammettere reali­sticamente e con profonda e sofferta sen­sibilità che i cristiani, oggi, in gran parte, si sentono smarriti, confusi, perplessi e perfino delusi; si sono sparse a piene mani idee contrastanti con la Verità rivelata e da sempre insegnata; si sono propagate vere e proprie eresie, in campo dogmatico e mo­rale, creando dubbi, confusioni, ribellioni; si è manomessa la Liturgia; immersi nel "relativismo" intellettuale e morale, e perciò nel permissivismo, i cristiani sono tentati dall'ateismo, dall'agnosticismo, dall'illumi­nismo vagamente moralistico, da un cristia­nesimo sociologico, senza dogmi definiti e senza morale oggettiva" (Oss. Rom., 7 feb­braio 1981).

MUTAZIONE SOSTANZIALE?


/.../ Può esserci una Chiesa sostanzialmente nuova? Qui c'è un'idea impossibile nella Tradizione cattolica: l'idea che il divenire storico della Chiesa, possa essere un divenire di fondo, UNA MUTAZIONE SOSTAN­ZIALE, un cambiamento da "tutt'altra" in "tutt'altra". Invece nel divenire della Chie­sa cambiano le forme accidentali e le con­giunture storiche, ma resta identica e sen­za innovazioni sostanziali, la sostanza della religione. La sola novità che l'ecclesiologia ortodossa conosca è la novità escatologica con "nuova terra e nuovo cielo", in cui la creazione è liberata dall'imperfezione, non dal limite del peccato mediante la giustizia delle giustizie. La Chiesa diviene, ma non muta. Non si dà, in essa, novità radicale. Se la fede cattolica si mutasse da tutt'altro in tutt'altro, non ci sarebbe più l'identico soggetto, ci sarebbero due soggetti sostan­zialmente differenti e morrebbe la continu­ità tra Chiesa presente, passata e futura. Ci sono mutazioni nel tempo solo accidenta­li, non già nella sostanza. Di questa sostan­za "non passerà uno iota". Nemmeno uno iota muterà. Theilard de Chardin non può preconizzare un andare del Cristianesimo oltre se stesso, perché questo significherebbe morire.

CONCILIO OPPOSTO ALLA PREPARAZIONE


Il Vaticano II ebbe risultati contrari a quel­li indicati dalla sua preparazione. La pre­parazione al Concilio (durata 2-3 anni) fu subito e interamente messa da parte. (nota 5 = Questo fatto, dalle opere che fanno la storia del Concilio, è taciuto o esaltato come una grande vittoria). Il Concilio nasce da se medesimo, indipendentemente e contro la preparazione che era stata fatta, sotto la presidenza di Giovanni XXIII. I fatti riuscirono diffor­mi dalla preparazione. Vene di pensiero modernista c'erano già in qualche punto della fase preparatoria. Esse però non impregnarono l'insieme degli schemi preliminari così pro­fondamente e distintamente come avvenne nei documenti finali del Concilio.

A) Così, ad esempio, la flessibilità della Liturgia alle varie indoli nazionali era pro­posta nello schema della liturgia, ma era ristretta solo ai territori di missione e non si faceva menzione dell'esigenza tutta soggettiva di una creatività del celebrante.

B) La pratica dell'assoluzione comu­nitaria, allargata a scapito della confessione individuale, era proposta nello schema "de sacramentis".

C) Perfino l'ordinazione presbite­rale di uomini sposati (non però quella di donne!) trovava posto nello schema "de ordine sacro".

D) Lo schema "de libertate religiosa" (Card. Bea) avanzava, in sostanza, la grande novità che venne infine adottata, facendo uscire, sembra, la dottrina dalla via co­mune, da sempre professata dalla Chiesa Cattolica.

E) Nello schema "de disciplina cleri" contemplava l'inabilitazione e la rimozione di vescovi e presbiteri, toccata una data età. (Motu proprio "Ingravescentem ae­tatem", riguarda i Cardinali ottuagenari)

F) Un votum particolare circa la tala­re, diede adito al costume di vestire alla lai­cale, dissimulando la differenza specifica del prete dal laico e facendo cadere persino la prescrizione che faceva obbligo della tala­re durante le funzioni ministeriali.

C'era chi voleva innovare l'educazione del clero. Schema "de sacro rum alumnis for­mandis". La Chiesa ha sempre operato per formare preti secondo un principio pecu­liare corrispondente alla peculiarità onto­logica e morale del loro stato consacrato. (NA.R. = se i preti sono ontologicamente diversi, cioè ricevono un dono che altri non hanno, è chiaro che devono essere formati in modo diverso da chi non possiede la loro specificità, il loro dono unico, originale e irriducibile ad altri doni = N.d.R.) . Nello schema, invece, si chiedeva una formazione del clero che fosse assimilata, quanto più possibile, alla formazione dei laici.(sic!) Per questo la "ratio studiorum" dei seminari doveva esemplarsi su quella degli Stati e, in generale, la cultura del clero doveva smettere ogni originalità rispetto a quella dei laici. Il motivo (prevalente poi, in Concilio) era che gli uomini di Chiesa si devono con­formare al mondo (sic!) per potere esercitare sul mondo la loro azione di insegnamento e di santificazione. La Chiesa contemporanea cerca infatti "alcuni punti di convergenza tra il pensiero della Chiesa e la mentalità carat­teristica del nostro tempo" (Oss. Rom. 25 luglio 1974).

G) Anche circa la "riunione dei cri­stiani non cattolici", si fece sentire la voce di chi pareggiava i protestanti (senza sa­cerdozio, senza gerarchia, senza successione apostolica e senza sacramenti) agli ortodos­si aventi invece quasi tutto in comune coi cattolici, fuorché primato e infallibilità. Pio IX aveva fatto nettissima distinzione: inviò messi apostolici a portare lettere invitatorie ai patriarchi orientali, ma non riconobbe come Chiese le varie confessioni prote­stanti, riguardate come pure associazioni e inviò un appello "ad omnes protestantes", non perché intervenissero al Concilio, ma affinché tornassero all'unità da cui si erano allontanati. L’atteggiamento invece affiorato nella preparazione poggiava sopra un'impli­cita parziale parità tra cattolici e acattolici; esso riuscì minoritario nella fase preparato­ria, ma ottenne poi che si invitassero, come "osservatori", i protestanti, indistinti dagli ortodossi ed esercitò la sua influenza nel de­creto sull'ecumenismo.

H) C'era un generale ottimismo nel­la diagnosi e nei pronostici nella minoran­za della Commissione centrale preparatoria. Che l'aumento delle scoperte scientifiche (la tecnica in cui s'identifica la civiltà mo­derna) corrisponda al regno della dignità e della felicità umana, fu affacciato nello schema "de Ecclesid", al Cap. 5 "de laicis", ma impugnato dalla maggioranza che in­sisteva sul carattere adiaforo dei progressi tecnici: questi non garantiscono, di per se, un aumento della moralità. Eppure questo argomento della dominazione della terra per mezzo della tecnica, verrà sacralizzato (cfr. § 218) nei documenti definitivi e investirà tutto il pensiero teologico post-conciliare.

Elevare la tecnica a forza civilizzatrice e mo­ralmente perfezionatrice dell'uomo, non solo è uno sbaglio in sé, ma partoriva l'idea del solo progresso inarrestabile del mondo e questo gran vento di ottimismo (NAR. = anche da questo si vede che i documenti sono almeno datati e vanno corretti c/o al­meno aggiornati = N.d.R.)

Questo "ottimismo ingenuo" doveva pre­siedere alle formulazioni assembleari e oscu­rare la visione reale dello stato del cattoli­cesimo.

I) Per avere un'idea chiara di questo strano atteggiamento riferiamo le critiche che un Padre della Commissione centra­le preparatoria opponeva alla descrizione troppo fiorita della situazione del mondo e della situazione della Chiesa nel mon­do (NAR. = è evidente quindi che questo era il clima e la mentalità e che esso esisteva già da tempo e che voleva impregnare di sé i documenti del Concilio = N.d.R.): "Non approvo la descrizione fatta qui con tanta esultanza dello stato presente della Chie­sa, ispirata a mio avviso più alla speranza che alla verità. Perché infatti parli di aumen­to del fervore religioso? O in confronto a quale epoca intendi? Non si devono forse tener in conto le statistiche secondo cui la fede cattolica, il culto divino e i pubblici costumi, declinano e rovinano? Lo stato generale delle menti non è forse alieno dalla religione cattolica, essendo separati lo Stato dalla Chiesa, la filosofia dalla fede, l'in­dagine scientifica dalla riverenza verso il Creatore e lo sviluppo tecnico dall'ossequio alla legge morale? Non soffre forse la Chie­sa per la penuria di clero? Molte parti della Santa Chiesa non sono forse conculcate dai Giganti e dai Minotauri che insuperbisco­no nel mondo? Oppure, come nella Cina, sono travagliate dallo scisma? Le nostre missioni, piantate e irrigate con tanto zelo e carità, non le ha forse devastate il nemi­co? L’ateismo non viene forse oggi celebrato non più solo dai singoli ma stabilito, cosa assolutamente inaudita, per legge da intere nazioni? Il numero dei cattolici, non decre­sce proporzionalmente ogni giorno, mentre si espandono smisuratamente Maomettani e Gentili? Noi, infatti, che eravamo poco fa un quarto del genere umano, siamo ri­dotti ad un quinto. E non è forse vero che i nostri costumi paganeggiano col divorzio, l'aborto, l'eutanasia, la sodomia e con Mam­mona?".

IL SINODO ROMANO


Quesito paradosso (esito difforme da quello preordinato, previsto, a cui preludeva) del Concilio, rispetto alla sua preparazione, appare anche da tre fatti principali: 1) la fallacia delle previsioni fatte dal Papa e dai preparatori del Concilio; 2) l'inutilità effet­tiva del Sinodo Romano indetto da Giovan­ni XXIII come anticipazione del Concilio; 3) la nullificazione, quasi immediata, della Enciclica "Veterum sapientia" che prefigu­rava la fisionomia culturale della Chiesa del Concilio.

1) Papa Giovanni XXIII aveva prepa­rato il Concilio con un atto di rinnovamen­to e di adeguamento funzionale della Chiesa e pensava di poterlo concludere entro pochi mesi (Nota 11 - Questo risulta dalla positio dell'istruttoria preliminare del processo di beatificazione, ma risulta anche dalle parole del Papa stesso nell'udienza del 13/10/1962 che faceva credere potersi il Concilio con­cludere a Natale), forse come il Laterano I, sotto Callisto II nel 1123, quando 300 Vescovi lo finirono in 19 giorni, o forse come il Laterano II sotto Innocenzo II, nel 1139,*;con 1000 Vescovi che lo finirono in 17 giorni. Fu invece aperto l'11/10/1962 e chiuso 1'8/12/1965, durando così, discon­tinuatamente, tre anni. Il rovesciamento delle previsioni nacque dall'essere abortito il Concilio quale era stato preparato e dall'es­sersi successivamente elaborato un Concilio difforme dal primo e per così dire generatosi da sé stesso e, come dicevano i Greci, auto­ghenes. (cfr. pp. 48-49).

TEMI DEL SINODO ROMANO


Fu ideato e convocato da Giovanni XXIII come un atto solenne previo al Concilio, di cui doveva essere una prefigurazione ed una realizzazione anticipata. Così dichiarò testualmente il Papa stesso nell'allocuzione al clero e ai fedeli di Roma il 29 giugno 1960. L'importanza, dunque, oltrepassa­va l'ambito della Diocesi di Roma e vo­leva abbracciare tutta la Chiesa. La sua importanza veniva paragonata a quella che rispetto al Concilio di Trento avevano avuto i Sinodi provinciali celebrati da San Carlo Borromeo. Si riproponeva l'antico adagio che vuole comporsi tutta la Chiesa Catto­lica sul modello della Chiesa romana. Nel­la mente di Papa Giovanni XXIII il Sinodo era destinato ad avere un effetto esempla­re grandioso: apparve anche dal fatto che ordinò subito che i testi fossero tradotti in italiano e in tutte le principali lingue.

I testi del Sinodo Romano, che furono promulgati il 25, 26 e 27 gennaio 1960, sono una reversione (ripresa, ritorno ????), totale all'essenza propria della Chiesa, all'essen­za, intendiamo, non pure soprannaturale (questa non si può perdere), ma dell'essen­za storica della Chiesa, un ritiramento (per dire con Machiavelli) dell'istituzione verso i suoi principii. In tutti gli ordini della vita ecclesiale, infatti, il Sinodo proponeva una vigorosa restaurazione. La disciplina del cle­ro era modellata sullo stampo tradizionale, maturato dal Tridentino e fondato sui due principii, sempre professati e sempre pra­ticati.

1) Il primo è quello della peculiarità della persona consacrata e abilitata sopran­naturalmente a esercitare le operazioni di Cristo, e quindi inconfusibilmente sepa­rata dai laici (sacro equivale a separato). Il Sinodo prescriveva ai sacerdoti tutto uno stile di condotta nettamente differenziato dalle maniere laicali. Tale stile esige l'abito ecclesiastico, la sobrietà del vitto, l'asten­sione dai pubblici spettacoli, la fuga delle profanità. Della formazione culturale del clero era similmente riaffermata l'originalità e si delineava il sistema che l'anno dopo il Papa sanzionò solennemente nell'Encicli­ca "Veterum Sapientia". Il Papa Giovanni XXIII ordinò anche che si ripubblicasse il "Catechismo" del Concilio Tridentino, ma l'ordine non fu accolto. (NA.R. = eviden­temente il partito dei modernisti e dei disobbedienti era attivo e funzionava già prima del Vaticano II = N.d.R.) Soltanto nel 1981, per iniziativa privata, se ne ebbe in Italia una traduzione (cfr. Oss. Rom., 5-6 luglio 1982)

2) Il secondo principio, conseguente al primo, è quello dell'educazione ascetica e della vita sacrificata, che differenzia il clero come ceto (ma anche il laicato, è chiama­to a vivere la dimensione ascetica della vita cristiana).

LEGISLAZIONE LITURGICA DEL SINODO


Non meno significante è la legislazione li­turgica del Sinodo Romano:

a) Si conferma solennemente l'uso del latino,

b) si condanna ogni creatività del ce­lebrante che farebbe scadere l'atto liturgico, che è atto della Chiesa Cattolica, a semplice esercizio di pietà privata,

c) si indica l'urgenza e la necessità di battezzare i bambini quanto prima.

d) Si prescrive il tabernaco­lo nella forma e nel luogo tradi­zionale,

e) si comanda il canto gre­goriano,

f) si sottopongono all'ap­provazione dell'Ordinario i canti popolari di nuova invenzione,

g) si allontana dalle Chie­se ogni profanità, vietando in ge­nerale che dentro l'edificio sacro si eseguano spettacoli e concerti, si vendano stampati ed immagini, si dia campo ai fotografi, si accendano pro­miscuamente lumi (si dovrà commettere al prete di farlo).

Il rigore antico del sacro viene ristabilito an­che circa gli spazi sacri, vietando alle don­ne l'accesso al presbiterio. Infine gli altari facciali sono concessi solo per eccezione che spetta al Vescovo diocesano di concedere. Ognuno può constatare come una tale mas­siccia reintegrazione della disciplina antica voluta dal Sinodo fu quasi in ogni articolo contraddetta e smentita dal Vaticano II. E così il Sinodo Romano, che doveva essere prefigurazione e norma del Concilio Vati­cano Il, precipitò in pochi anni nel più as­soluto oblio ed è in verità "tamquam non fuerit" .

(Nota 12 - In Oss. Rom., 4 giugno 1981, si scrisse, addirittura, che il rinnovamento della Chiesa fu cominciato da Giovanni XXIII con la celebrazione del Sinodo Ro­mano e con la celebrazione del Concilio e che "i due finiscono per amalgamarsi". Sì, se amalgamare significa annientare. Il Sino­do romano non è citato dal Concilio Vatica­no II neppure una volta). Per dare un saggio di questa nullificazione del Sinodo romano osserverò che, avendo io cercato, in Curie e archivi diocesani, i testi del Sinodo Roma­no, non ve li trovai e dovetti estrarli da pub­bliche biblioteche civili (cfr. pp. 49-51) .

"VETERUM SAPIENTIA"


L’uso della lingua latina è, non metafisica­mente, ma storicamente, connaturato alla Chiesa Cattolica. Esso costituisce inoltre un mezzo e un segno primario della continu­ità storica della Chiesa. E siccome non c'è interno senza esterno e tale "interno" sorge, fluttua, si innalza, si abbassa insieme con l'esterno, è sempre stata persuasione della Chiesa che l'esternità del latino si dovesse conservare perpetuamente per preservare l'interno della Chiesa. /.../ La rovina del­la latinità conseguita al Vaticano II si ac­compagnò infatti a moltissimi sintomi di quell'autodemolizione della Chiesa depre­cata da Paolo VI. Anche qui salta agli occhi la frattura tra l'ispirazione preparatoria data al Concilio e il risultato effettivo di esso.

Con l'enciclica "Veterum sapientia", Gio­vanni XXIII intendeva operare un ritorno ("ritiramento") della Chiesa ai suoi princi­pii, essendo questa ripresa dei principi fon­damentali, nella mente del Papa, la vera condizione del rinnovarsi della Chiesa nella propria peculiare natura nel presente "ar­ticulus temporum". Il Papa attribuì al do­cumento un'importanza specialissima e volle rivestita la sua promulgazione di una solennità che non ha pari nella storia di questo secolo: in San Pietro, al cospetto del collegio Cardinalizio e di tutto il clero roma­no. L’Enciclica, tecnicamente, fu annientata dall'oblio nel quale fu fatta cadere immedia­tamente (NA.R. = evidentemente il partito dei modernisti e dei disobbedienti era atti­vo e funzionava già prima del Vaticano II = N.d.R.) ed ebbe un insuccesso storico. Ma la sua importanza rimane (i valori non sono tali solo e se perché accettati): la sua impor­tanza è data dalla perfetta consonanza con l'individualità storica della Chiesa.

A) Eenciclica è anzitutto un'afferma­zione di continuità. (NAR. = ricordiamo che Lutero volle l'abbandono del latino principalmente e in modo strumentale per allontanare le masse da Roma, dal papato = N.d.R.). C'è continuità con la letteratura greca e latina perché le lettere cristiane sono, sin dai primordi, lettere greche e let­tere latine. Gli incunaboli del Libro Sacro sono greci; i simboli di fede più antichi sono greci e latini; la Chiesa di Roma dalla metà del secolo III è tutta latina, parla in latino; i Concili dei primi secoli non hanno altro idioma che il greco. Questa è una continui­tà interna alla Chiesa che concatena tutte le sue epoche. Ma vi è poi una continuità, per dir così, esterna che travalica l'era cristiana e va a ripigliare tutta la sapienza gentilesca. La dottrina dei Padri greci e latini, richiamata dal Pontefice con un testo di Tertulliano è che vi è continuità tra il mondo di pensie­ro in cui visse la sapienza antica ("Veterum sapientia") e il mondo di pensiero elabora­to dopo la rivelazione del Verbo incarnato. /.../ La cultura cristiana è, in qualche modo, preparata ed aspettata obbedienzialmente, come dissero i medievali, dalla sapienza an­tica, perché nessuna verità, nessuna giusti­zia, nessuna bellezza è estranea alla cultura cristiana. Essa é, dunque, non opposta, ma consentanea alla cultura antica e si e sem­pre sostenuta in essa, non solo facendosela ancella e giovandosene funzionalmente, ma portandola in grembo. Però questo rapporto richiede che si mantenga ferma la distinzio­ne tra razionale e sovrarazionale e che si eviti di cadere nel naturalismo e nello storicismo. S. Agostino afferma questa continuità in modo assoluto e universale: "Infatti quella realtà stessa che oggi si chiama religione cri­stiana, già esisteva negli antichi e non mancò mai dagli inizi del genere umano" (Retract., 1, cap. 13).

B) La parte pratica e dispositiva della "Veterum sapientia" è di una fermez­za che è l'espressione e l'applicazione di una cristallina dottrina. I punti decisivi sono proprio quelli che, per la successiva papale desistenza, ne determinarono la nullificazio­ne.

1) La "ratio studiorum" ecclesiastica riacquista la propria originalità fondata sul­lo specifico dello "homo clericus"; si de­cide che si risostanzi l'apprendimento delle discipline tradizionali, massime il latino e greco;

2) Che per ciò ottenere si espungano e si raccorcino le discipline del "cursus" laicale che, per una tendenza assimilativa si erano andate introducendo o ampliando (NA.R. = invece la Gaudium et spes, pre­scriverà che nelle scienze sacre bisogna in­trodurre psicologia e sociologia, addirittura per avere una fede più matu­ra, cfr. Gaudium et spes, n. 61 e: "Nella cura pastorale si conoscano sufficientemen­te e si faccia buon uso non soltanto dei principi della teologia, ma anche delle scoperte delle scienze pro­fane, in primo luogo della psicologia e della sociolo­gia, cosicché anche i fedeli siano condotti ad una più pura e matura vita di fede" = N. d. R.).

3) Prescrive che nei semi­nari le scienze fondamentali, come la dog­matica e la morale, si professino in latino, seguendo manuali parimenti latini;

4) Che chi tra gli insegnanti apparisse incapace o renitente alla latinità, si rimuova entro un congruo tempo.

5) A coronamento della Costituzione apostolica, destinata a procurare una ge­nerale reintegrazione della latinità nella Chiesa, il Papa decretava l'erezione di un Istituto superiore di latinità, che avrebbe dovuto formare latinisti per tutta la Chie­sa e curare un lessico del latino moderno. (Nota 15: "La disfatta del latino nella chiesa post-conciliare è al contrario manifesta. Per­sino nel Congresso internazionale tomistico del 1974 il latino non figurava tra le lingue ammesse. Non c'è dubbio che c'è stato il passaggio ad una Chiesa multilingue ma aliena dal latino"). La "Veterum sapientia", che toccava un punto storicamente essenzia­le del cattolicesimo, richiedeva una grande virtù di obbedienza da parte di tutti, so­prattutto degli organi esecutivi. Occorreva una grande forza pratica per fare applicare la riforma chiedendo, tra l'altro, agli insegnan­ti di conformarsi o dimettersi. Invece la ri­forma degli studi ecclesiastici fu osteggiata da molti lati (in molti ambiti) e con vari motivi (in vari modi), massimi nella pro­vincia tedesca (in Germania) con un libro del Winninger che ebbe addirittura la prefazione del vescovo di Strasburgo. La riforma degli studi ecclesiastici di Giovanni XXIII fu in breve tempo annientata. Il Papa, che prima spingeva per la sua attuazione, or­dinò che non se ne esigesse più l'esecuzione; quelli a cui toccava, per ufficio, di renderla operativa, assecondarono la fiacchezza pa­pale e la "Veterum sapientia", di cui erano state tanto esaltate l'opportunità e l'utilità, fu del tutto cancellata e non citata in alcun documento conciliare.

(NAR. = evidentemente il partito dei modernisti e dei disobbedienti era attivo e funzionava già prima del Vaticano II = Era già pronto ed operativo tutto il programma e la macchina organizzativa per far deviare il Concilio in senso modernista = N.d.R.)

In alcune biografie di Giovanni XXIII se ne tace del tutto come se non fosse mai esistita, mentre i più zelanti la menzionano soltanto come un errore. E non c'è nella storia di tut­ta la Chiesa un documento così solennizzato e così gettato alle ortiche. Resta da stabilire se la sua cancellazione "de libro viventium" è stata la conseguenza di una mancanza di saggezza nel pubblicarla o se è invece stato l'effetto di una mancanza di intrepidezza (fermezza-coraggio) nell'esigerne l'esecuzio­ne. II Card. Siri, in un'intervista pubblicata dal mensile "30 Giorni", riferì dell'esisten­za di un gruppo di "contro impostazione" al Concilio che operava dentro il Concilio con l'aiuto esterno di stampa e media, che lavorava contro la linea e il programma di Giovanni XXIII e che si riunì già prima del Concilio in una certa parte dell'Europa. At­traverso questo gruppo si è manifestata una chiara volontà di manipolare e stravolgere il Concilio (cfr. Fede e Cultura, Giugno 2009, pp. 29-31). Un'ulteriore e diremmo definitiva prova viene dalla confessione di uno dei "congiurati", riferita da un inso­spettabile scrittore che era il preferito di Paolo VI: Jean Guitton. L’accademico di Francia così infatti riferisce: "L’indomani faccio visita al card. Tisserant, che è irritato con Giovanni XXIII. Mi fa vedere un qua­dro, dipinto da sua nipote sulla base di una fotografia, che rappresenta una riunione di cardinali prima del concilio. Vi si vedono sei o sette porporati attorno al presidente, che è Tisserant: "Questo quadro è storico, o piut­tosto è simbolico. Rappresenta la riunione che noi abbiamo avuto prima dell'apertura del concilio, dove noi abbiamo deciso di bloccare la prima sessione, rifiutando le re­gole tiranniche stabilite da Giovanni XXIII" (Jean Guitton, Paolo VI segreto, San Pao­lo, (1985) Quarta edizione 2002, p. 115). ["Ce tableau est historique ou plutòt il est symbolique. Il représent la réunion que nous avions eu avant l'ouverture du Concile où nous avons décidé de bloquer la premiè­re séance en refusant des règles tyranniques établies par Jean XXIII" (Paul VI, secret, Pa­ris, 1979, p. 123)1. Chi erano gli altri por­porati presenti a quel "consiglio di guerra"? Non è difficile immaginare chi facesse parte di quei "noi", visto che al Concilio, in quel­la prima sessione qualcuno di quel "noi" si impegnò pubblicamente e concretamente a farla fallire quella sessione. (Tratto da: Fede e Cultura)

SANTO PADRE GIOVANNI XXIII : IL SINODO ROMANO

* ALLOCUZIONE DEL SANTO PADRE GIOVANNI XXIII
CON LA QUALE ANNUNCIA
IL SINODO ROMANO,
IL CONCILIO ECUMENICO
E L'AGGIORNAMENTO DEL
CODICE DI DIRITTO CANONICO

Sala capitolare del Monastero di San Paolo
Domenica
, 25 gennaio 1959




Venerabili Fratelli e Diletti Figli Nostri,

Questa festiva ricorrenza della Conversione di San Paolo, radunandoci qui intorno alla tomba dell'Apostolo, presso la sua Basilica insigne, Ci ha suggerito di aprire l'animo Nostro confidente alla vostra bontà e comprensione circa alcuni punti più luminosi di attività apostolica, che questi tre primi mesi di presenza e di contatto con l'ambiente ecclesiastico Romano Ci hanno suggerito.

Ci sta innanzi la sola prospettiva del bonum animarum e di una corrispondenza ben netta e definita del nuovo Pontificato con le spirituali esigenze dell'ora presente.

Sappiamo che da molte parti amiche e fervorose, e da altre malevole, o incerte, si guarda al nuovo Papa in attesa di ciò che di più caratteristico si è in diritto di attendere da Lui.

È ben naturale che sul tessuto della quotidiana attività, che accoglie le più accresciute e le ordinarie manifestazioni del compito pastorale, venga fissato qualche punto più distinto, quasi a segnare la nota, se non la principale e la sola, però una delle più espressive della fisionomia di un Pontificato, che sta prendendo il suo posto più o meno felicemente nella storia.

Ebbene, Venerabili Fratelli e Diletti Figli Nostri, ripensando al duplice compito affidato ad un Successore di San Pietro, apparisce subito la duplice sua responsabilità di Vescovo di Roma e di Pastore della Chiesa universale. Due espressioni di una sola investitura sovrumana: due attribuzioni che non si possono scindere, che si debbono anzi comporre tra loro, ad incoraggiamento e ad edificazione del clero e di tutto il popolo cristiano.

Ecco innanzitutto Roma: nel corso di quaranta anni completamente trasformata in tutt'altra città da quando la conoscemmo nella Nostra giovinezza. Qua e là ancora si scorgono le sue linee architettoniche fondamentali più vetuste, che talora costa qualche pena il rintracciare, soprattutto alla periferia avviluppata ormai in un agglomerato di case, di case, di case, di famiglie, di famiglie, qui convenute da ogni parte del continente Italico, dalle isole circostanti, e si può dire da tutta la terra. Un vero alveare umano da cui si svolge un brusìo ininterrotto di voci confuse, in cerca di accordi, che facilmente si intrecciano e si disfanno, rendendo faticoso e lento lo sforzo di unificazione di spiriti e di energie costruttive per un ordine corrispondente alle esigenze della vita religiosa, civica e sociale dell' Urbe.

Il Signor Cardinale Vicario Ci ha messo con grande diligenza al corrente della situazione spirituale di Roma dal punto di vista della pratica religiosa, dell'assestamento delle varie istituzioni di carattere parrocchiale, di culto, di assistenza, di istruzione cristiana: e Ci piace cogliere questa occasione per rendere omaggio alla realtà di uno sforzo commendevole, suo e dei suoi collaboratori, alacre ed incessante di vigilanza e di apostolato, esercitato dal vertice alla periferia da parte del clero secolare e regolare, fino ai collaboratori delle Associazioni cattoliche, con intenzioni rette e chiare di ciascuno, con operosità costante e sincera.

Accade per altro di dover constatare che l'episodio evangelico delle turbe chiamate a seguire il Signore e ad accostarsi a Lui, ma incapaci ed impotenti a trovarsi il cibo nutriente della grazia, si rinnova e tocca il cuore ansioso del pastore. Pochi pani: pochi pesci: « quid sunt inter tantos? ». Con questo accenno è detto tutto: quanto ad un incremento di energie, di coordinazione di sforzi individuali e collettivi atti a produrre, con l'aiuto del Signore, una coltivazione spirituale intensa, per una produzione più copiosa e felice di frutti benefici e santi nel senso dell'« adveniat regnum tuum », in un fervore di vita parrocchiale e diocesana più feconda.

Che se il Vescovo di Roma allarga lo sguardo Suo sul inondo tutto intero del cui governo spirituale è fatto responsabile per la divina missione affidataGli della successione del supremo apostolato, oh! lo spettacolo: lieto da una parte dove la grazia di Cristo continua a moltiplicare frutti e portenti di spirituale elevazione, di salute e di santità in tutto il mondo: e triste dall'altra innanzi all'abuso e al compromesso della libertà dell'uomo, che non conoscendo i cieli aperti, e rifiutandosi alla fede in Cristo Figlio di Dio, redentore del mondo e fondatore della Santa Chiesa, si volge tutto alla ricerca dei cosiddetti beni della terra, sotto la ispirazione di colui che il Vangelo chiama principe delle tenebre, principe di questo mondo — come lo qualificò Gesù stesso nell'ultimo suo discorso dopo la Cena — organizza la contraddizione e la lotta contro la verità e contro il bene, la posizione nefasta che accentua la divisione fra quelle che il genio di Sant'Agostino chiama le due città, mantenendo sempre attivo lo sforzo della confusione per ingannare, se possibile, anche gli eletti, per trarli a rovina.

A colmo di sventura per la schiera dei figli di Dio e della Santa Chiesa si aggiunge la tentazione e l'attraimento verso i vantaggi di ordine materiale che il progresso della tecnica moderna per sé indifferente — ingrandisce ed esalta.

Tutto ciò — diciamo, questo progresso — mentre distrae dalla ricerca dei beni superiori, infiacchisce le energie dello spirito, conduce al rilassamento della compagine della disciplina e del buon ordine antico, con grave pregiudizio di ciò che costituì la forza di resistenza della Chiesa e dei suoi figli agli errori, i quali in realtà sempre nel corso della storia del cristianesimo, portarono a divisioni fatali e funeste, a decadimento spirituale e morale, a rovina di nazioni.

Questa constatazione desta nel cuore dell'umile sacerdote, che la indicazione manifesta della Divina Provvidenza condusse, benché indegnissimo, a questa altezza del Sommo Pontificato, desta — diciamo — una risoluzione decisa per il richiamo di alcune forme antiche di affermazione dottrinale e di saggi ordinamenti di ecclesiastica disciplina, che nella storia della Chiesa. in epoca di rinnovamento, diedero frutti di straordinaria efficacia, per la chiarezza del pensiero, per la compattezza della unità religiosa, per la fiamma più viva del fervore cristiano che noi continuiamo a riconoscere, anche in riferimento al benessere della vita di quaggiù, ricchezza abbondante « de rore coeli et de pinguedine terrae » (Gen. XXVII, 28).

Venerabili Fratelli e Diletti Figli Nostri! Pronunciamo innanzi a voi, certo tremando un poco di commozione, ma insieme con umile risolutezza di proposito, il nome e la proposta della duplice celebrazione: di un Sinodo Diocesano per l'Urbe, e di un Concilio Ecumenico per la Chiesa universale.

Per voi, Venerabili Fratelli e Diletti Figli Nostri, non occorrono illustrazioni copiose circa la significazione storica e giuridica di queste due proposte. Esse condurranno felicemente all'auspicato e atteso aggiornamento del Codice di Diritto Canonico, che dovrebbe accompagnare e coronare questi due saggi di pratica applicazione dei provvedimenti di ecclesiastica disciplina, che lo Spirito del Signore Ci verrà suggerendo lungo la via. La prossima promulgazione del Codice di Diritto Orientale ci dà il preannunzio di questi avvenimenti.

Per la giornata odierna basta questa comunicazione fatta a tutto insieme il Sacro Collegio qui radunato, riservandoCi di trasmetterla agli altri Signori Cardinali tornati alle varie sedi episcopali loro affidate, sparse nel mondo intero.

Gradiremo da parte di ciascuno dei presenti e dei lontani una parola intima e confidente che Ci assicuri circa le disposizioni dei singoli e Ci offra amabilmente tutti quei suggerimenti circa la attuazione di questo triplice disegno.

La conoscenza che Ci era già abbastanza familiare, e che questi tre mesi dalla Nostra introduzione al servizio « servorum Dei » ha confermata ed amplificata, Ci incoraggia a confidare nella grazia celeste: innanzitutto nella intercessione della Immacolata Madre di Gesù e Madre nostra, nella protezione ilei Santi Pietro e Paolo « Apostolorum Principum »; nonché dei Santi Giovanni Battista ed Evangelista, Nostri particolari patroni, e di tutti i Santi della Curia celeste. Da tutti imploriamo un buon inizio, continuazione, e felice successo di questi propositi di forte lavoro, a lume, ad edificazione ed a letizia di tutto il popolo cristiano, a rinnovato invito ai fedeli delle Comunità separate a seguirci anch'esse amabilmente in questa ricerca di unità e di grazia, a cui tante anime anelano da tutti i punti della terra.

Venerabili Fratelli e Diletti Figli Nostri! Come Ci tornano soavi ed incoraggianti le parole di San Leone Magno, che la Sacra Liturgia ci invita ora più sovente a recitare. Oggi stesso vibra più vivo il saluto di San Paolo, il convertito di Damasco, che qui ci ha accolti presso le sue più sacre memorie: « Corona mea ... et gaudium vos estis, si fides vestra, quae ab initio Evangelii in universo mundo praedicata est, in dilectione et sanctitate permanserit » (S. Leo M., Sermo 2).

Oh! che saluto è questo: tutto degno della nostra famiglia spirituale. Dilectio et sanctitas: un saluto ed un augurio. Benedictio Dei omnipotentis Patris et Filii et Spiritus Sancti. Amen.





* AAS. vol. LI, 1959, pp. 65-69.



PAPA SÃO JOÃO XXIII: desejamos convidar-vos a recitardes o Rosário com particular devoção também por estas outras intenções, que tanto temos a peito, a saber: a fim de que o sínodo de Roma seja frutuoso e salutar para esta nossa dileta cidade; e afim de que do próximo Concílio Ecumênico do qual participareis com a vossa presença e com o vosso conselho, toda a Igreja obtenha uma afirmação tão maravilhosa, que o vigoroso reflorescimento de todas as virtudes cristãs

 
CARTA ENCÍCLICAGRATA RECORDATIODO SUMO PONTÍFICE
PAPA JOÃO XXIII

AOS VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS
E AOS OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO
COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE A REZA DO TERÇO
PARA AS MISSÕES E PARA A PAZ
1. Desde os da nossa juventude, com freqüência se nos apresenta à alma a grata recordação daquelas cartas encíclicas [1] que o nosso predecessor, de imortal memória, Leão XIII, na iminência do mês de outubro, muitas vezes endereçou ao mundo católico, para exortar os fiéis, especialmente durante aquele mês, à piedosa prática do Santo Rosário. Trata-se de encíclicas várias pelo seu conteúdo, ricas de sabedoria, vibrantes de sempre nova inspiração, e o mais possível oportunas para a vida cristã. Era um forte e persuasivo apelo a dirigir confiantes súplicas a Deus, mediante a poderosíssima intercessão da Virgem sua Mãe, com a recitação do Santo Rosário. Este, com efeito, como de todos é sabido, é uma excelente modalidade de oração meditada, constituída à guisa de coroa mística, na qual as orações do Pai-Nosso, da Ave-Maria e do Glória ao Pai se entrelaçam com a consideração dos mais altos mistérios da nossa fé, pelos quais é apresentado à mente, como outros tantos quadros, o drama da encarnação e da redenção de nosso Senhor.
2. Com o passar dos anos, esta suave recordação da nossa idade juvenil nunca nos abandonou, e nem tampouco se enfraqueceu; antes dizemo-lo com paternal confiança – valeu para tornar bastante caro ao nosso espírito o Santo Rosário, que nunca deixamos de recitar inteiro cada dia do ano: ato de piedade mariana que sobretudo desejamos praticar com particular fervor no mês de outubro.
3. Durante o curso deste primeiro ano do nosso Pontificado, que já chega ao fim, não nos faltou ocasião de exortar muitas vezes o clero e o povo cristão a preces públicas e privadas; mas agora pretendemos fazê-lo com uma exortação mais viva, diremos, e comovida, por muitos motivos que brevemente exporemos nesta nossa encíclica.
4. I. No próximo mês de outubro completa-se o primeiro aniversário do piedosíssimo trânsito do nosso predecessor Pio XII, cuja existência refulgiu de tantos e tamanhos méritos. Vinte dias depois, sem mérito algum nosso, por oculto desígnio de Deus, fomos elevados ao sumo pontificado. Dois sumos pontífices estendem-se a mão, como que para se transmitirem a sagrada herança da grei mística e para conclamarem a continuidade da sua ansiosa solicitude pastoral e do seu amor a todos os povos.
5. Não são porventura estas duas datas, uma de tristeza e outra de júbilo, a clara demonstração, perante todos, de que, na perpétua sucessão dos acontecimentos humanos, o pontificado romano sobrevive ao longo do curso dos séculos, mesmo se todo chefe visível da Igreja católica, chegado ao tempo fixado pela Providência, é chamado a deixar este exílio terrestre?
6. Volvendo o olhar quer para Pio XII quer para seu humilde sucessor, nos quais se perpetua o ofício de supremo pastor comado a S. Pedro, os fiéis elevem a Deus a mesma prece: "Protege o papa, os bispos e todos os ministros do evangelho, nós te pedimos, escuta-nos, Senhor!". [2]
7. E apraz-nos, ademais, aqui recordar que também o nosso imediato predecessor, com a Encíclica Ingruentium malorum [3], já exortou os fiéis de todo o mundo, como ora o fazemos nós, à piedosa recitação do Santo Rosário, especialmente no mês de outubro. Naquela encíclica há uma advertência que de muito bom grado repetimos: "Volvei-vos com sempre maior confiança para a Virgem Mãe de Deus, a quem os cristãos sempre e principalmente têm recorrido nas adversidades, visto que ela foi constituída fonte de salvação para todo o gênero humano". [4]
8. II. A 11 de outubro teremos a grande alegria de entregar o crucifixo a uma densa falange de jovens missionários, que, deixando a sua dileta pátria, assumirão a árdua tarefa de levar a luz do Evangelho a povos longínquos. Nesse mesmo dia, à tarde, é desejo nosso subir ao Janículo para celebrar, com alegres auspícios, o primeiro centenário de fundação do Colégio Americano do Norte, em união com os superiores e com os alunos.
9. As duas cerimônias, embora não intencionalmente marcadas para o mesmo dia, têm o mesmo significado: isto é, de afirmação clara e decidida dos princípios sobrenaturais que movem todas as atividades da Igreja católica; e da voluntária e generosa dedicação de seus alhos à causa do mútuo respeito, da fraternidade e da paz ente os povos.
10. O maravilhoso espetáculo destas juventudes que, vencidas inúmeras dificuldades e incômodos, se oferecem a Deus para que também os outros entrem na posse de Cristo (cf. Fl 3,8), seja nas mais longínquas terras ainda não evangelizadas, seja nas imensas cidades industriais onde, no vertiginoso pulsar da vida moderna, as almas às vezes se estiolam e se deixam oprimir pelas coisas terrenas, este espetáculo, repetimos, é comovedor e anima à esperança de dias melhores.
11. Nos lábios dos velhos que até aqui carregaram o peso destas graves responsabilidades floresce a ardente prece de S. Pedro: "Concede aos teus servos anunciarem com toda confiança a palavra de Deus" (cf. At 4,29).
12. Portanto, vivamente desejamos que durante o próximo mês de outubro todos estes nossos filhos sejam recomendados, com fervorosas preces, à augusta Virgem Maria.
13. III. Há, além disto, uma outra intenção que nos impele a dirigir mais ardentes súplicas a Jesus Cristo e à sua amabilíssima Mãe, preces para as quais convidamos o sacro colégio de cardeais, e vós, veneráveis irmãos, os sacerdotes e as almas consagradas, os doentes e os sofredores, as crianças inocentes e todo o povo cristão. E é esta: afim de que os homens responsáveis pelos destinos das grandes como das pequenas coletividades, cujos direitos e cujas imensas riquezas espirituais devem ser escrupulosamente conservadas intactas, avaliem, atentamente a grave tarefa da hora presente.
14. Por isso rogamos ao Senhor que eles se esforcem por conhecer a fundo as causas que originam as dissensões, e com boa vontade as superem; sobretudo que avaliem o triste balanço de ruínas e de danos dos conflitos armados – que o Senhor afaste! – e não depositem neles esperança alguma; que adaptem a legislação civil e social às reais exigências dos homens, não esquecidos, por outro lado, das Leis eternas, que provêm de Deus e são o fundamento e o eixo da própria vida civil; e preocupem-se sempre com o destino ultraterreno de toda alma individual, criada por Deus para alcançá-lo e gozá-lo um dia.
15. Além disto, é de lembrar que hoje se difundiram posições filosóficas e atitudes práticas absolutamente inconciliáveis com a fé cristã. Com serenidade, precisão e firmeza continuaremos a afirmar essa inconciliabilidade. Mas Deus fez curáveis os homens e as nações! (cf. Sb 1,14).
16. E por isto confiamos que, postos de parte os áridos postulados de um pensamento cristalizado e de uma ação penetrada de laicismo e de materialismo, busquem e achem os oportunos remédios naquela sã doutrina que a experiência das coisas cada dia mais confirma. Ora, essa doutrina conclama que Deus é autor da vida e das suas leis: que é vingador dos direitos e da dignidade da pessoa humana; por conseqüência, que Deus é a "nossa salvação e Redenção!". [5]
17. O nosso olhar volve-se para todos os continentes, lá onde os povos estão em movimento para tempos melhores, e nos quais vemos um despertar de energias profundas que faz esperar num empenho das consciências retas em promover o verdadeiro bem da sociedade humana. A fim de que esta esperança se realize de modo o mais consolador, isto é, com o triunfo do Reino da verdade, da justiça, da paz e da caridade, ardentemente desejamos que todos os nossos filhos formem "um só coração e uma só alma" (At 4,32), e elevem comuns e fervorosas súplicas à celeste Rainha e Mãe nossa amantíssima durante o correr do mês de outubro, meditando estas palavras do apóstolo das gentes: "Somos atribulados por todos os lados, mas não esmagados; postos em extrema dificuldade, mas não vencidos pelos impasses; perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados. Incessantemente e por toda parte trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, afim de que a vida de Jesus seja também manifestada em nosso corpo" (2 Cor 4,8-10).
18. Antes de terminarmos esta carta encíclica, veneráveis irmãos, desejamos convidar-vos a recitardes o Rosário com particular devoção também por estas outras intenções, que tanto temos a peito, a saber: a fim de que o sínodo de Roma seja frutuoso e salutar para esta nossa dileta cidade; e afim de que do próximo Concílio Ecumênico do qual participareis com a vossa presença e com o vosso conselho, toda a Igreja obtenha uma afirmação tão maravilhosa, que o vigoroso reflorescimento de todas as virtudes cristãs, que dele esperamos, sirva de convite e de estímulo também para todos aqueles nossos irmãos e filhos que estão separados desta Sé Apostólica.
19. Com esta gratíssima esperança e com grande afeto concedemos a vós, veneráveis irmãos, aos féis a vós singularmente confiados, e de modo especial a todos os que, com piedade e boa vontade acolherem este nosso convite, a bênção apostólica.
Dado em Roma, junto a S. Pedro, no dia 26 de setembro de 1959, primeiro do nosso Pontificado.
JOÃO PP. XXIII

Notas
[1] Cf. Carta enc. Supremi Apostolatus: Acta Leonis XIII, III, p. 280ss; EE (= Enchiridion delle Encicliche, EDB. Coleção publicada na Itália) 3; Carta enc. Superiore anno: Acta Leonis XIII, IV, p. 123ss; EE 3; Carta enc. Quamquam pluries: Acta Leonis XIII, IX, p. 175as; EE 3; Carta enc. Octobri mense: Acta Leonis XIII, XI, p. 299ss; EE 3; Carta enc. Magnae Dei Matris: Acta Leonis XIII, XII, p. 221ss; EE 3; Carta enc. Laetitiae sanctae: Acta Leonis XIII, XIII, p. 283ss; EE 3; Carta enc. Iucunda semper: Acta Leonis XIII, XIV, p. 305ss; EE 3; Carta enc. Adiutricem populi: Acta Leonis XIII, XV, p. 300ss; EE 3; Carta enc. Fidentem piumque: Acta Leonis XIII, XVI, p. 278ss; EE 3; Carta enc. Augustissimae Virginis: Acta Leonis XIII, XVII, p. 285ss; EE 3; Carta enc. Diuturni temporis: Acta Leonis XIII, XVIII, p.153ss; EE 3.
[2] Lit. Sanctorum.
[3] Ingruentium malorum, 15 de setembro de 1951; AAS, 43 (1951), p. 577ss, EE 6/873ss.
[4] Santo Ireneu, Adv. haer. III, 22: PG. 7, 959. – AAS, 43 (1951), pp. 578-579; EE 6/876.
[5] Da Liturgia Sagrada.

domingo, 27 de abril de 2014

O Sínodo Romano convocado por São João XXIII O Sínodo Romano foi concebido e convocado por São João XXIII como um ato solene e prévio à grande Assembléia Conciliar, o qual deveria ser a prefiguração e a realização antecipada do Concílio.




Quando tinha meus 20 anos de idade li pela primeira versão original italiana de “Iota Unum” do Prof. Romano Amerio. Naquela época o autor ainda estava com o nome lançado nas instâncias do esquecimento ou diríamos, num estado intermediário entre o respeito e o repúdio, entre o céu e o inferno. Uma vez que o L’osservatore Romano em 2010 colocou a obra no lugar merecido ou até mesmo “reabilitou” moralmente o autor, optamos por trazer trechos de sua obra onde ele analisa as mudanças da Igreja após o Concílio Vaticano II.

A versão que adotamos por traduzir não é mais a original em italiano, mas a espanhola. Romano Amerio foi perito no Vaticano II, teólogo e filósofo, e por compor a ala tradicionalista recebeu a alcunha espúria de “inimigo”, certamente pela incapacidade dos grandes meios de comunicação de refutarem suas teses quase ou até mesmo tomistas. Jamais nos seria espantoso ou imoral aceitar que suas linhas tivessem sido destruídas pelo uso da razão e da boa argumentação, mas uma vez que não foram, pelo contrário, quiseram aniquilar o homem para assim aniquilarem suas teses, o retorno de Amerio é mais do que bem-vindo, assim depois de morto talvez consigam ao menos refutá-lo com dignidade, deferindo ao morto o que não foi dado ao vivo: respeito.

Após a Imprensa Oficial da Santa Sé publicar matéria sobre o autor e promover um Congresso para expor sua obra, o livro que não era mais editado, voltou a compor o rol de leitura de muitos católicos europeus, e pela ainda inexistente versão portuguesa, queremos trazer suas linhas na tentativa de elevar o nível dos debates – muitos deles escandalosos pela inexatidão e até mesmo pela vangloria – de forma que seja conhecida a história do Concílio, que sem dúvida, foi marcante para o século XX e para a história do catolicismo. Este livro é uma testemunha ocular e não mera opinião.

O título “Iota Unum” é uma referência a São Mateus 5, 18. Desta forma o autor deixa entrever que as tentações, ou para usar um termo mais abalizado que o meu, a auto-demolição, pela qual passa a Igreja, está prenunciada na Revelação Divina, ou seja, “Em verdade vos digo: até que passem os Céus e a Terra, nem um só jota (iota unum) ou um só til da Lei passará sem que tudo se cumpra”. Para o professor Romano, tudo que ocorre hoje com a Igreja é cumprimento exato das profecias do Novo Testamento.

Inseri alguns comentários do corpo da tradução, para que o leitor ainda pouco acostumado com o tema possa entender a quem e a que se refere a passagem, e nenhuma intenção passa disso, senão meramente auxiliar a leitura. Inseri também subtítulos e reafirmamos: - o leitor que tiver acesso à obra completa ou dela puder tomar apontamentos, tem obrigação por dever de justiça, de formar sua opinião a partir da obra integral e não de minha tradução dos trechos, isso porque recuso usar da artimanha de pinçar trechos de obras e textos para legitimar idéias, como se o autor concordasse com os sofismas de quem usa seus escritos como meio de manipulação de opinião. Infelizmente este mal é uma desonestidade intelectual muito comum e difícil de ser aniquilada.
A apresentação da obra de Romano feita pelo Bispo de Imperia, Dom Mario Oliveri, pode ser lida aqui.

O Resultado Paradoxal do Concílio e o Sínodo Romano – Capítulo III do Tomo I da Obra Iota Unum. Estudos Sobre as Transformações da Igreja no Século XX.

Por Romano Amerio
Tradução: Carlos Eduardo Maculan

O resultado paradoxal do Concílio Vaticano II a respeito de sua preparação se manifesta na comparação entre os documentos finais e os documentos iniciais (propedêuticos), e também nos três eixos principais: I – o fracasso das previsões feitas pelo Papa (João XXIII) e por quem preparou o Concílio; II – a inutilidade efetiva do Sínodo Romano sugerido por João XXIII como antecipação do Concílio e; III – a anulação, quase imediata, da Encíclica Veterum Sapientiae, que prefigurava a fisionomia cultural da Igreja Conciliar.

O Papa João, que havia idealizado o Concílio como um grande ato de renovação e de adequação funcional da Igreja, acreditava que também o havia preparado como tal, e aspirava poder concluí-lo em poucos meses, quiçá como o I Concílio de Latrão com o Papa Calixto II em 1123, quando trezentos bispos o concluíram em dezenove dias, ou como o II Concílio de Latrão com o Papa Inocêncio II em 1139, com mil bispos que o concluíram em dezessete dias.

No entanto, o Vaticano II se abriu em 11 de outubro de 1962 e se encerrou em 8 de dezembro de 1965, durando três anos de modo descontínuo. O fracasso das previsões tiveram origem em haver-se abortado um Concílio que havia sido preparado e na elaboração posterior de um Concílio distinto do primeiro, que gerou a si mesmo. (Nota do tradutor: o autor faz referência aos rumos que tomou o Vaticano II. Um é o Concílio que se idealizou pelo Sínodo Romano, outro é o Concílio que “gerou a si próprio”).

O Sínodo Romano convocado por São João XXIII

O Sínodo Romano foi concebido e convocado por João XXIII como um ato solene e prévio à grande Assembléia Conciliar, o qual deveria ser a prefiguração e a realização antecipada do Concílio.

Assim declarou textualmente o Pontífice na Alocução ao Clero e aos Fiéis de Roma de 29 de junho de 1960. A todos o Papa revelou a importância do Sínodo e ainda mais anunciou que além da Diocese de Roma, o Sínodo se estendia a toda Igreja no Mundo. A importância do Sínodo foi comparável aos Sínodos Provinciais celebrados por São Carlos Borromeo antes do Concílio de Trento.

Renovava-se o antigo princípio que quer modelar toda a orbe católica sob o patronato da Igreja Romana. Na mente do Papa o Sínodo Romano estava destinado a ter um grandioso efeito exemplar que se depreendia do feito de que o Papa ordenou a tradução de todos os seus textos para todas as línguas principais do mundo. Os textos do Sínodo promulgados em 25, 26 e 27 de janeiro de 1960 manifestam um completo retorno às essências da Igreja.

O Sínodo decretava: I – restauração da vida religiosa; II – a disciplina do clero se estabelece no modelo tradicional, amadurecido no Concílio de Trento e fundado em princípios sempre professados e sempre praticados. O primeiro princípio é da peculiaridade da pessoa consagrada e habilitada sobrenaturalmente para exercer as operações de Cristo e, por conseguinte, separada dos leigos sem confusão alguma. O segundo princípio era a educação ascética e a vida sacrificada, que caracteriza o clero, embora os leigos possam levar uma vida ascese.

Deste modo o Sínodo prescrevia aos clérigos todo um estilo de conduta retamente diferenciado das maneiras seculares. Tal estilo exige I - o hábito eclesiástico (batina e hábitos regulares), II - a sobriedade nos alimentos, a abstinência de espetáculos públicos e a negação das coisas profanas. Reafirmava-se, igualmente, a originalidade da formação cultural do clero e se desenhava o sistema sancionado de forma soleníssima pelo Papa João XXIII no ano seguinte ao Sínodo através da Encíclica Veterum Sapentiae. O Papa ordenou, inclusive, que se reeditasse o Catecismo do Concílio de Trento, porém a ordem foi desobedecida. Somente em 1981, e por iniciativa totalmente privada, se publicou na Itália sua tradução, conforme consta do L’Osservatore Romano de 5 de julho de 1982.

A legislação litúrgica do Sínodo
Não menos significativa é a legislação litúrgica decretada pelo Sínodo: I – O uso solene do Latim; II – condenação formal e material da criatividade litúrgica que rebaixa o ato litúrgico enquanto ato solene da Igreja; III – a necessidade do batismo de crianças “quam primum”; IV – o sacrário deve estar disposto sobre o altar na forma tradicional; V – O uso do gregoriano, proibindo as novas invenções musicais; VI – a proibição geral de que se tenha lugar dentro do edifício santo toda espécie de profanação com espetáculos; VII – A proibição do acesso de mulheres ao presbitério; VIII – a proibição dos altares “de frente para o povo”, salvo nos casos previstos na lei canônica.

(Nota do tradutor: os altares “frente para o povo” nunca existiram na tradição, nos locais onde o altar está supostamente “de frente para o povo” segundo a disciplina tradicional, como na Basílica de São Pedro, na verdade não estão. Em São Pedro do Vaticano o altar está na verdade “Versus Deum”, ou seja, voltado para o Leste, o que gera engano no povo que acredita que na Basílica do Papa se celebra de frente para os fiéis. Nunca existiu na Santa Sé celebração que não fosse “Versus Deum”.)

É impossível não ver que tão firme reintegração da antiga disciplina desejada pelo Sínodo tenha sido contraditada pelo Concílio praticamente em todos os seus artigos. Deste feito, o Sínodo Romano, que deveria ser a prefiguração e a norma do Concílio – como desejou João XXIII – foi jogado em poucos anos no Érebo. Para se dar uma idéia de tal anulação, assinalo que não encontrei os textos do Sínodo em nenhuma Cúria Diocesana, tendo que consegui-los em bibliotecas civis.

O Paradoxismo do Concílio em relação a Veterum Sapeintiae

O uso da língua latina é conatural à Igreja e está estreitamente ligada às coisas da Igreja, inclusive na mentalidade popular. Constitui, ademais, um meio e um sinal primordial da continuidade histórica da Igreja. E posto que não há nada interno sem o externo, e o interno, surge, flutua, se eleva e se rebaixa conjuntamente com o externo, sempre esteve persuadida a Igreja de que a forma externa do latim deve conservar-se perpetuamente para conservar as características internas da Igreja. E tanto mais quando se trata de um fenômeno de linguagem, no qual a conjunção de forma e substância (ou seja, o interno e do externo) é de todo indissolúvel. Desta monta, a ruína da latinidade, conseqüente ao Vaticano II, foi acompanhada por muitos sintomas da auto-demolição da Igreja conforme lamentado por Paulo VI.

João XXIII pretendia com a Encíclica Veterum Sapientiae operar um retorno da Igreja sobre seus princípios, sendo que em sua mente este retorno é uma condição para a renovação da Igreja na peculiaridade própria do “articulus temporum”.

O Papa atribuiu ao documento uma importância especialíssima e as solenidades de que quis revestir sua promulgação – na Basílica de São Pedro, na presença do Colégio Cardinalício e de todo o clero romano – não se viu igual na história deste século. A importância da Veterum Sapientiae não se vê negada pelo esquecimento em que a fizeram cair imediatamente e nem por seu fracasso histórico. Sua importância deriva de sua perfeita consonância com a identidade histórica da Igreja.

A encíclica é fundamentalmente uma afirmação da continuidade e a Igreja que procede do mundo helênico e romano é sobre tudo porque as letras cristãs são, desde os primeiros tempos, letras gregas e letras latinas. Os incunábulos das Sagradas Escrituras são gregos, os símbolos da fé mais antigos são gregos e latinos, a Igreja de Roma da metade do século III é toda ela latina, os Concílios dos primeiros séculos não têm outro idioma que o grego.[1]

Se trata de uma continuidade interna da Igreja na qual se concatenam todas suas épocas. Porém, existe ademais, uma continuidade externa que atravessa a inteira cronologia da era cristã e recorre a sabedoria dos gentios. Não vamos falar, naturalmente, de um “São Sócrates” a quem amaldiçoava Erasmo, porém não poderemos preterir a doutrina, exposta pelos Padres Gregos e Latinos e recordada pelo Pontífice (João XXIII) com um texto de Tertuliano, segundo a qual, existe uma continuidade entre o mundo do pensamento no qual viveu a “antiga sabedoria” – precisamente veterum sapientiae – e o mundo de pensamento elaborado depois da Revelação do Verbo Encarnado.

Nota do tradutor: foi por reconhecer a sabedoria grega e latina, a tradição, os símbolos da fé e a forma lingüística da Igreja durante 20 séculos, que o Papa João XXIII quis dar o nome da encíclica mais solene do século XX de “Veterum Sapientiae” ou “Antiga Sabedoria”. Sabe-se que João XXIII reconheceu no texto a continuidade entre a história da Igreja e sua contemporaneidade. Todavia, de forma assustadora, a Veterum Sapientiae foi esquecida e não consta sequer do Enchiridion Symbolorum editado após o Concílio, ou seja, é um capítulo omitido do Denzinger-Hünermann. Para o Papa João, o mundo grego e latino é parte integrante da religião católica, e esta é uma verdade não só professada por ele, mas por todos os Papas que o precederam.

O pensamento cristão desvendou o conteúdo sobrenaturalmente revelado, porém, também aderiu ao conteúdo revelado naturalmente mediante a luz da razão criada.

Deste modo, o mundo clássico não é estranho à religião. Esta o tem como essência e uma esfera de verdade inalcançável mediante as luzes naturais e sobrepostas a elas, porém, inclui também a esfera de toda verdade humanamente alcançável.

A cultura cristã foi, portanto, preparada e esperada obedientemente (como diziam os medievos) pela sabedoria antiga, porque nenhuma verdade, nenhuma justiça, nenhuma beleza é alheia ao cristianismo. E por isso não lhe é oposta, senão, compatível com a sabedoria antiga e se vê apoiada sempre por ela: não somente, como sucede dizer, fazendo-lhe escrava e a utilizando funcionalmente, mas levando no colo a quem já existia, todavia, a santificou e a fez maior do que era.

O documento mais solenizado da história da Igreja
A Veterum Sapientiae prescreve que as ciências fundamentais, como a dogmática e a moral, sejam ensinadas nos seminários em latim e seguindo manuais igualmente em latim; que os professores que pareçam incapazes ou reticentes com a latinidade sejam afastados por tempo conveniente. Como coração dela, que era destinada a procurar uma reintegração geral do latim da Igreja, o Pontífice decretou a ereção de um Instituto Superior de Latinidade, que tinha a função de formar latinistas para toda a Igreja e confeccionarem um livro de léxicos do latim moderno.

A desintegração geral da latinidade posteriormente ao projeto preparatório do Concílio, onde, nesse projeto se pretendeu a geral reintegração, nos mostra um sufrágio adicional à tese do resultado paradoxal do Concílio.

Milhões de professores, que se encontravam na exata condição desejada pela Veterum Sapientiae sobre as disciplinas divinas, foram constrangidos de forma impiedosa e sem misericórdia a se demitirem de seus cargos. A reforma dos estudos eclesiásticos, segundo a mesma encíclica, foi hostilizada por muitos e vários motivos, sendo aniquilada em brevíssimo tempo.

O Papa João, que primeiramente a instava ser cumprida, ordenou que não se exigisse mais sua execução. Aqueles a quem deviam por dever de ofício fazê-la eficaz, cercaram o Papa já debilitado e a Veterum Sapientiae, cuja oportunidade e utilidade tão altamente se havia exaltado, foi de toda ab-rogada e não é citada em nenhum documento conciliar.

Em algumas biografias sobre João XXIII ela é silenciada de todo, como se não existisse ou nunca houvesse existido, enquanto que os mais progressistas a mencionam somente como um tremendo erro. Não há na história da Igreja um documento tão altamente solenizado e que de tão pronto foi lançado nas gemônias[2].

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Notas do tradutor:

[1] Incunábulos na bibliologia são os primeiros livros traduzidos.
[2] Gemônias são as escadarias das antigas prisões romanas que levavam ao subsolo e nas quais eram expostos os cadáveres dos mortos.